Quando andei na escola, a lei do recreio era muito simples:
"Não jogas porque todos tem que ter uma oportunidade, mas sim porque és bom e contigo nós ganhamos".
Cruel? Talvez.
Mas fazia-nos ter duas hipóteses:
1- Centrar-nos naquilo em que éramos bons e não perder energias e, acima de tudo, a possibilidade de sermos melhores naquilo em que éramos bons;
2- Obrigava-nos a observar para perceber porque os outros eram bons, o que nos dava as pistas certas do que tínhamos que fazer para lhes tirarmos o lugar.
Na primária na Escola da Mãe de Deus eu observava os mais velhos a jogar futebol e nunca conseguia jogar, porque era baixinho. Era injusto? Talvez.
Mas era assim.
Um dia, durante o jogo, um dos maiores magoou-se e os "melhores" olharam à volta e só me viram a mim. Faltava um. E lá veio o sinal "pronto, entra, já que não há mais ninguém. mas fica lá à frente e tenta não estragar, que nós resolvemos".
E eu entrei e marquei 5 golos.
A partir daquele dia, os "melhores" elegeram-me como jogador da sua equipa.
Não porque:
- eu tenha feito queixa à professora porque os outros não deixassem jogar;
- o meu pai tenha ido à escola dizer que era injusto um baixinho não poder jogar com os mais altos;
- tenha aparecido uma qualquer ONG a defender os meus direitos.
Elegeram-me porque eu era bom e o demonstrei na oportunidade que tive.
Mas alguém deve estar a pensar "Pois, mas não é justo nunca te terem dado uma oportunidade de demonstrares só por causa do teu tamanho. Isto é discriminação".
É verdade. Mas isto resolve-se com a criação de oportunidades das pessoas demonstrarem as suas capacidades e não por imposição. E muito menos obrigando os outros a terem que levar com quem não querem. Por exemplo, resolvia-se se os professores organizassem um momento em que só os baixinhos, gordinhos e outros do género pudessem jogar, enquanto os "melhores" ficavam de fora.
Com imposições, quotas, compadrios, amiguismo, cartão partidário e afins, não incutimos nas pessoas a mentalidade de que tem que evoluir. Não as obrigamos a fazer a sua análise pessoal de pontos fortes e pontos a melhorar, que os coloca perante a realidade e obriga a procurar formas de fazer o seu desenvolvimento pessoal.
No desporto isto é muito duro: "Não sabes. Não jogas. Porque se não sabes, aumentas a probabilidade de nós perdermos".
Nos partidos tem que haver a mentalidade de dizer a um dos seus correlegionários:
"A TUA ORGANIZAÇÃO PERDEU, PORQUE OS OUTROS FORAM CONSIDERADOS OS MELHORES E COM MELHOR PROJETO. EM VEZ DE RECLAMARES E FAZERES FITAS, PERCEBE O QUE A TUA ORGANIZAÇÃO FEZ DE MAL E DEAL WITH IT".
Quando os partidos assumirem esta mentalidade, toda a sociedade vai ganhar, porque as entidades em vez de reclamarem porque queriam ter ganho, mesmo que o projecto dos outros fosse o melhor e representassem melhor o que o espírito da lei pretendia conforme declarado pelo júri perito constituído para o efeito, param com as reclamações e impugnações só porque não queriam que os outros ganhassem fazendo tudo para atrasar a implementação das coisas e prejudicando as populações a quem os projetos se destinam.
Mas lá está, tudo isto se resolveria se no recreio deles lhes dissessem:
"TU SÓ JOGAS SE FORES BOM E NÃO PORQUE ÉS NOSSO AMIGO".
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