sábado, 16 de abril de 2011

LIQUIDAR OU VIABILIZAR?

A agência de rating Standard & Poor’s (S&P) afirma hoje que Portugal vai precisar de recorrer ao Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF), que entrará em vigor a partir de 2013. E agravou a sua previsão para Portugal: a economia vai contrair 3,2 por cento até 2012.

E tem toda a razão, porque eles melhor do que ninguém sabem que as medidas que nos estão a ser impostos têm um alcance de curto prazo tendente a permitir que Portugal cumpra com as suas obrigações para com credores, que muitos deles foram aconselhados por estas mesmas agências de rating a comprar a nossa dívida, salvando assim a sua face (das agências, claro está), e não a viabilização do país.

Nas falências há sempre 2 caminhos, quando o gestor judicial entra na empresa: LIQUIDAÇÃO  ou VIABILIZAÇÃO.

As medidas que estão a impor a Portugal, depois de o terem feito à Grécia e à Irlanda apontam todas para o 1º caminho, não permitindo qualquer evolução positiva na economia. Claro que isto depois leva a:

A agência de notação financeira cortou hoje o 'rating' da Irlanda para Baa3, um nível acima de 'lixo'. O 'outlook' mantém-se negativo.
A Moody's explica este corte com a deterioração das perspectivas económicas do país, notando que "será difícil que a economia [irlanedesa] cresça muito" durante o próximo ano. A agência baixou a avaliação da Irlanda de 'Baa1' para 'Baa3', apenas a um nível de ser considerada 'lixo'.

Todos os livros apontam para o mesmo. As medidas de austeridade são necessárias para corrigir situações num momento, mas só funcionam se acompanhadas de outras medidas conducentes a alterar o rumo da economia.

Por outro lado, sempre me ensinaram que um investidor/gestor/etc racional não coloca todos os ovos no mesmo cesto, ora se assim é como é possível que se aposte toda a recuperação económica de uma economia nas exportações?

Segundo os “expertos” (diferente de expert’s!!!) a nossa economia só pode avançar por causa das exportações.

Pois, mas se não houver procura interna que sustente uma franja alargada da população, como é que quem trabalha nas exportadoras vai conseguir comer? Ah!!! Importa-se. Pois, lá está. Então se internamente não produzirmos, as importações vão aumentar. Mas se aumentarem o dinheiro sai do País, não é? Então se sai do País, onde está a criação de riqueza que permita às exportadoras serem competitivas? Se as exportadoras não forem competitivas sabem o que vai acontecer às exportações? VÃO DESAPARECER.

Em tudo tem que haver equilíbrio. Esta é que é a verdade.

O que falhou redondamente foi a noção de União Europeia e é esta noção que tem que rapidamente voltar a funcionar, ou melhor, começar a funcionar. A ideia que os melhores produzem e pagamos aos piores para deixar de produzir, porque sai mais barato comprar a quem produz melhor, não funcionou.

Agora a dificuldade é que a União Europeia tem um forte handicap, quando comparado com outros estados federais: todos os Estados que a compõem têm uma identidade própria muito vincada. Aliás isto ficou bem patente quando se chegou ao impasse supremo quando a União Europeia chegou ao limite do caminho em que tem de decidir qual o caminho futuro e este foi recusado por todos quando não foi aprovado uma Constituição única e um conjunto de outras coisas que claramente apontavam para a criação de uma entidade supranacional.

Isto sim gerou todo este impasse atirando a União e o Euro para uma posição susceptível deste ataque cerrado que lhe começou, desde então, a ser feito. Quem concebeu este ataque sabia que a União afinal não era tão unida e que com um bocadinho de esforço, quando atacada iria cair. Veja-se as reacções de alguns países quando chamados a ajudar!!! Providências cautelares da Alemanha. Negas da Finlândia.

Mas não serão também eles culpados pelo estado a que chegaram as economias em dificuldades? Não foram eles coniventes com quem governou estes países passando-lhes a mão pelo pêlo só porque faziam o que eles queriam? Não foi a senhora Alemã que exigiu que Portugal fosse para a frente com a compra dos submarinos só porque isto lhe ajudava nas suas próprias contas do déficit? Não é a União Europeia que faz pressão para manter o TGV, porque assim há um conjunto de cidades espanholas que fica com acesso mais rápido a portos marítimos? Já viram alguns destes países exigirem que Portugal não respeite o pagamento destes credores? Mas para exigir que o governo português deixe de cumprir com os credores do estado que são todos os portugueses, aí não têm problemas.

Lembro-me muito bem que dos 1ºs países a falharem os critérios de convergência que previam um determinado déficit foi a Alemanha. E que logo foi criado um mecanismo transitório que permitiu a todos não cumprirem, pelo menos até a Alemanha ter entrado nos eixos.

Preparemo-nos todos para num futuro próximo ver partir os nossos filhos para outros países, porque com o desemprego a aumentar alguma coisa vai ter de fazer-se com as pessoas excedentes. Como o Estado já não tem capacidade de ter a sua acção social, e por isto está a cortar em todos nos salários, subsídios, apoios, reformas, etc, e ainda por cima de forma indiscriminada (sem critério que não seja o mesmo para todos) vai haver um conjunto de pessoas que:

- ou se sujeita a passar fome sem fazer barulho até que o país dê a volta por milagre, não havendo consumo com a respectiva redução na cobrança de impostos, já influenciada pela redução de impostos vindos do emprego;

- ou vai embora, para os países que necessitam de mão-de-obra porque ao contrário dos outros têm a sua economia em franco crescimento, mesmo fazendo parte do mesmo centro geográfico.

Aliás repare-se nos anúncios de procura de técnicos qualificados que começaram a ser lançados.

E aqui chegamos a mais uma consequência da manipulação artificial das coisas para serem atingidos números, mostrando, ou melhor, inventando uma realidade que afinal não era real. Reduziu-se os tempos dos cursos para aumentar rapidamente o número de técnicos qualificados e as % de população com habilitações superiores. Isto não fez com que tivessemos técnicos mais qualificados, mas sim mais pessoas supostamente com qualificações. A pressão nos mercados de trabalho originaram que os preços da oferta (salários) caíssem para valores que não remuneravam bem os melhores. O que se vai assistir é que os melhores em cada uma das profissões vão ir atrás de quem lhes paga melhor e os outros (com menores competências) vão aceitar ficar com aqueles empregos por muito menos dinheiro. As empresas (geridas por pessoas, na sua maioria, sem competências de gestão, mas tão somente porque são donas ou filhos das donas) ficarão contentes porque assim baixaram os custos, mas rapidamente vão pagar a factura da falta de produtividade e de competência, porque penalizaram os bons em favorecimento dos maus (até porque os bons dizem verdades que não os fazem ser colaborantes!!!).

Tudo isto se paga.

Aliás, o que está a acontecer em Portugal está escrito na nossa história e num destes dias foi-me lembrado pelo Prof. Teixeira Dias numa crónica no Terra Nostra. Ciclicamente Portugal desperdiçou recursos maravilhosos que teve. Foi assim com as especiarias, foi assim com o ouro e foi assim agora com os milhões da Europa, dizia ele. Eu acrescento, lembrando-me de um livro que li (A Primeira Aldeia Global. Como Portugal mudou o Mundo. de Martin Page),que tudo isto foi sempre perdido pela ignorância e incapacidade de todos os que circulavam nos corredores do poder, fosse sentados nele, fosse querendo sentar-se nele.

É triste ver um País e um povo capaz de fazer coisas maravilhosas deixar-se manipular e enrolar por meia dúzia de marionetas sem escrúpulos e não dar um soco na mesa.

Agora... Bem agora é pagar todos e esperar que aconteça o 1º milagre. E este é termos uma campanha séria e não demagógica, uma campanha limpa e não cheia de folclore, uma campanha positiva e não “vamos lavar a roupa suja”.

Lembrem-se que “Só há uma discussão quando os dois querem” e infelizmente está a provar-se que é querem mesmo, porque também se calhar assim é mais fácil esconder as incapacidades…

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