domingo, 3 de maio de 2009

DESABAFO DO FUNDO

VIVER OU PASSAR POR ESTA VIDA

Há um momento nas nossas vidas em que somos confrontados com uma das mais difíceis decisões da nossa vida: viver ou passar por esta vida. Acredito que cada vez mais as pessoas vão optar por viver e isto é aproveitar o que de bom têm ao seu alcance para assim poderem ter o que contar e partilhar com os seus mais que tudo. Ter comida na mesa e uma casa para viver são coisas importantes e mesmo fundamentais para se conseguir tudo o resto, mas aí vai residir cada vez mais o maior choque de gerações de que possa haver memória em Portugal e nos Açores: ter UMA casa ou A casa?

De que nos vale passar por esta vida escravos de uma renda que nos atormenta diariamente a existência só para dizer que se tem UMA casa? Para chegar ao final da vida e deixar este imóvel a quem já dele não precisa, porque já tem a sua vida feita? Valerá a pena sacrificar tudo diariamente com o intuito de ter património para ter segurança? Será esta segurança efectiva ou meramente ilusória? O que será que os nossos filhos preferem ter no final quando nós partirmos: uma casa que lhes vai trazer problemas para vender ou um monte de recordações de boas experiências vividas em conjunto?

Eu alinho pelas recordações, porque em qualquer casa, seja ela grande ou pequena, transformam o desconforto num excelente momento de união, mas uma excelente casa não se preenche no vazio de não haver nada que una as pessoas que nela vegetam.

Eu escolho viver esta vida, mesmo que isto signifique não ter muito dinheiro, muitos bens ou muito património, porque ao menos sei que um dia vão dizer-me:

- “Pai, fazes aquele puré com olhos dentro e o sumo de sangue?”

- “Pai, vamos saltar do porto para a água, porque somos grandes malucos?”

- “Pai, a gente joga bem à bola não é?

- “Pai, é tão bom quando a gente faz a luta dos balões no nosso quintal.”

- “Pai, lembras-te quando a gente brincou aos animais e a gente andou em cima de ti?”.

Eu escolho viver a passar só por esta vida, escravo de uma casa, de um carro, de uma conta num banco, que à pouco tempo todos aprendemos que de um dia para o outro pode desaparecer sem ser gasto por nós.

Eu escolho deixar aos meus mais que tudo uma experiência de vida enriquecedora a tal ponto que eles também escolham viver a somente passarem por esta vida.

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