sábado, 7 de março de 2009

FINO NEGÓCIO

Manuel Fino só pode recomprar Cimpor se antes liquidar totalidade da divida

Este negócio põe à mostra algumas coisas que mais uma vez mostram como foi possível o mundo chegar onde chegou. Perderam-se os valores mais básicos da gestão. Não se cumpriu uma das mais inquestionáveis permissas de todas as teorias económicas: o Homem é um ser racional.

Como é possível aceitar como garantia de qualquer coisas acções cotadas em bolsa?

Ainda para mais quando a lei obriga quem recebe a garantia e a executa a ter de vender rapidamente?

As consequências só podem ser terríveis para quem recebeu a garantia, para a empresa cotada e para todos os restantes investidores que têm acções da empresa cotada. Nunca, mas nunca a empresa que apresentou a garantia vai sair mal. Não percebem porquê? Eu explico.

O Fino apercebeu-se que a garantia que tinha dado valia menos do que a dívida, porque a cotação tinha baixado devido às quedas dos mercados financeiros e vai daí, arranjou forma de começar a mostrar que entraria em incumprimento e que obrigaria a CGD a ter de executar a garantia. Se a CGD executasse a dívida acontecia o seguinte:

- não recuperava o dinheiro segurado, porque tinha que vender à cotação que estivesse na altura e não podia esperar pela melhor cotação;

- sendo um grande lote de acções a ser posto à venda, o efeito na cotação ainda seria pior, porque quanto o mercado é inundado de títulos de uma empresa, isto tem um efeito de arrasto e pela lei da oferta e da procura, quanto mais oferta, menor é o preço;

- quando uma empresa cotada vê o seu valor de mercado baixar drasticamente, isto tem um efeito devastador nas suas contas e na confiança que o mercado passa a ter sobre aquele título, podendo no limite afectar até a notação de risco;

- sendo a cimpor um dos títulos seguro do nosso mercado, são muitos os investidores que a têm nas suas carteiras, especialmente pequenos, e se a cotação ainda caísse mais, mais investidores seriam prejudicados.

Como conclusão, acho que sinceramente nesta fase não deveriam estar a discutir se a CGD fez ou não bem em negociar com o Fino a reestruturação da dívida. O que deveriam estar a discutir é se a CGD pode ou não aceitar acções de empresas cotadas como garantia de operações.

Neste caso, acredito que a CGD agora fez o melhor dos negócios. O pior dos negócios fê-lo foi quando aceitou as acções como garantia. Mas aí estavam todos na ilusão irracional que tudo iria subir indefinidamente e que o mundo era muito lindo. Só que o mundo afinal é real e racional.

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