A pedido de um amigo meu, transcrevo aqui uma crónica lida numa rádio local:
"Crónica do Dia
Imagine que alguém vai a sua casa e, à força o leva, o mete num contentor, o transporta por mar durante alguns dias, mal alimentado, encurralado, empacado com outros irmãos seus sem se poderem mexer. Chegam a terra, e quando entendem, abrem a porta e esta dá para um quarto cuja única saída é a porta por onde você entrou e que acabou de ser fechada. Você que pensou que aquela porta se tinha aberto para a liberdade, para o devolver a casa e…nada disso. À sua frente está um terrível monstro que o ameaça, o cita, o provoca. Aterrorizado você só tem duas hipóteses, ou sair dali, o que é impossível porque a porta está fechada, ou livrar-se do monstro; toma balanço, fecha os olhos e investe. Quando chega ao pé do monstro sente um ferro cravar-se nas suas carnes, a dor é imensa, insuportável, o sangue escorre pela sua pele, os seus olhos enevoam-se e nada mais lhe resta senão continuar a lutar, mas o adversário é inteligente, tem um aliado precioso, o cavalo, ágil e bem treinado. Você volta a investir, uma, duas, três vezes e de cada uma mais um ferro é espetado nas suas costas e, que por terem arpões cada vez que se mexe se agarram mais à sua carne e com o balanço a dor é cada vez maior e insuportável, começa a ter febre, o sangue quente e húmido escorre cada vez mais, as forças faltam-lhe, não sabe já para onde se virar e pede ao seu deus que o tire dali, que o sofrimento já ultrapassou há muito o limite das suas forças. No meio daquela tortura sanguinária você consegue ter a noção de que afinal não está sozinho com o monstro, monstros iguais, muitos, estão à volta dessa sala, noutra sala e assistem aos que se passa, aplaudem, gritam de gozo, de emoção, atiram ao ar chapéus, almofadas, fotografam, deliram, a banda toca música. A porta do quarto abre-se e o monstro que o torturou sai e, você, confuso, quer também sair, mas a porta fecha-se no seu nariz; olhos rasos de lágrimas, tendo a certeza de que nunca mais ver os seus, morrendo de dores e de febre ainda tem uma prova final: uma dezena de monstros entra no quarto, quase não os vê devido às lágrimas, mas eles gritam, esbracejam, correm para si e param, recuam, voltam a gritar, e você com os malditos ferros a queimarem-lhe a carne, o sangue a escorrer quente e húmido pelas costas abaixo, chora de raiva, toma balanço e investe…qualquer coisa bate forte na sua cara e tapa-lhe os olhos, serão os monstros? Agarram-se à sua carne dorida, arrastam-no pelo chão e as forças a esvaírem-se com o sangue que se esvai. Meu Deus mandai-me a morte depressa, que dores horrorosas.
Finalmente abre-se a porta, uns parentes seus vêm buscá-lo, você duvida, mas acaba por segui-los até ao contentor de onde tinha saído. A porta fecha-se, você cai desfalecido no chão, a febre e as dores são tantas que delira e sonha que está em casa, no meio dos seus…mas a realidade é que está a morrer por cada gota de sangue que sai da sua carne torturada. E lá longe continua a ouvir os gritos da multidão de monstros em êxtase…outro dos seus entrou na arena, a barbárie continua.
Cito texto retirado do Site internacional contra as touradas:
“Não há justificação moral para recusar ter em consideração o sofrimento de um ser, seja ele animal humano ou animal não humano. Os animais são seres sensientes que experienciam alegria, felicidade, medo e dor do mesmo modo que os animais humanos. Ninguém tem o direito de os fazer sofrer para diversão. Se qualquer tortura infligida a um animal merece ser condenada, as touradas são a pior forma de tortura uma vez que são feitas em nome do entretenimento. Temos que acabar com toda a tortura praticada sobre os animais e terminar de uma vez por todas com estes espectáculos de brutalidade e violência. Quem tortura animais e lhes inflige sofrimento mais tarde ou mais cedo fará o mesmo com o seu semelhante.”
Em Santa Maria vai comemorar-se a Autonomia com a barbárie, com a tortura de animais que como nós sentem a dor. Em pelo século XXI! Tenhamos a coragem de dizer não, de não pormos lá os pés e denunciarmos um espectáculo que assenta na tortura, na dor e na violência e que para além disso é pago pelo Governo Regional com o dinheiro de todos nós, portanto com dinheiro meu que sou contra e aqui o declaro.
Abraços marienses
Ana Loura
Santa Maria, 09 de Maio de 2005"
quarta-feira, 11 de maio de 2005
TOURADAS...
Desabafo de Simão Pfc Neves @ 12:03
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3 comentários:
SPN, desde já os meus agradecimentos pela publicação do artigo que a meu ver é uma causa pública e nobre.
Se Santa Maria nunca teve nenhuma tradição nas touradas, porque é que tinha que começar agora?
Eu sempre fui contra esses espectáculos, por isso aplaudo de pé a respeitável Ana Loura e todos aqueles que se juntarem a ela nesta luta.
Queridos Amigos
Agradeço, imenso, o terem publicado a minha crónica.
Quero deixar-vos alguns endereços de e-mail e o texto dos e-mails por mim enviados às entidades. Nunca será demais protestar e mostrarmos a nossa indignação.
Abrços
Ana
Gabinete do Ministro da República: lurdes.leal@mrraa.pt
Presidente do GRA:grpresidencia@pg.raa.pt
Presidente da CN de V. do Porto:geral@cmviladoporto.
Circulo de Amigos de S Lorenço: casl@caslourenco.com
Excelências
Venho por este meio apresentar os meus mais profundos repúdio e protesto pela anunciada realização de uma tourada de praça na ilha de Santa Maria aquando as comemorações do Dia Da Região, dia da Autonomia e nelas integradas.
Será do conhecimento de V.Exas que em Santa Maria este espectáculo nunca foi tradição, tendo, tanto quanto eu sei, acontecido uma há cerca de 55 anos atrás pelo que não será este um argumento que justifique se inicie, agora, a apresentação de tão discutível espectáculo com a agravante de ser a expensas do erário público.
Santa Maria, certamente, não irá vender melhor como destino turistico após tão infeliz decisão de promover este espectáculo. A Europa do Norte, a que chamamos de civilizada, não será movida para cá vir pelo argumento de que fará parte das suas diversões tourada em Santa Maria, pelo contrário.
Por fim quero acrescentar que me incomoda, repúgna e ofende a realização desta tourada numa ilha onde escolhi viver nos últimos 25 anos, e à porta da minha casa.
Junto envio crónica por mim escrita sobre o assunto e lida aos microfones da Estação Emissora do Club Asas do Atlântico e que farei o possível, junto com um documento do Movimento Anti-Tourada de Portugal, de distribuir o mais profusamente possível pela população mariense.
Com os meus cumprimentos
Ana Maria Nogueira dos Santos Loura
B.I. 2843447
Está excelente o Blog - passarei mais vezes!
Quanto á tourada só posso parabenizar a Ana pelos textos e pela coragem de os divulgar.
Quanto á tourada vai lá quem quer mas estão a cultivar a "BESTA" que há em cada um de nós.
Também sou contra o facto da mesma ser totalmente financiada pelo GR quando outros espectáculos de excelente conteúdo humano, humoristico e artistico não são trazidos à Ilha.
Estou convencida de que liberdade para tal houvesse e gente seria lançada à arena com leões, sobretudo os que ousam abalar o sistema, para satisfação de apetites vingativos doentios.
Quanto vezes já te lançaram á arena?
Quantas vezes já te enfiaram ferros nas costas?
A vida é uma tourada e as bestas andam á solta.
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